“Resenha”: Roseli Silva Minzon
A metodologia da problematização com o Arco de Maguerez: uma perspectiva teórica e epistemológica
Filosofia e Educação (Online), ISSN 1984-9605
Volume 3, Número 2, Outubro de 2011 – Março de 2012
Neusi Aparecida Navas Berbel
Sílvio Ancizar Sánchez Gamboa
O presente artigo reflete sobre a metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez - como caminho de ensino e de pesquisa, com vistas a compreender as teorias da educação e/ou concepções de conhecimento que a fundamentam. A inquietação dos autores em saber mais sobre as origens do Arco e seus fundamentos teóricos.
Assim, traduziram essa necessidade num problema de estudo, orientado pela seguinte questão: Levando em conta as características do Esquema do Arco, de Charles Maguerez, o que o fundamenta? Que teorias da educação e/ou concepções de conhecimento pode melhor explicá-lo?
Para isso analisaram
características do Esquema do Arco de Maguerez utilizado na Metodologia da Problematização.
Nesse sentido, estabelecemos como objetivos específicos:
1- delinear as características básicas do Arco de Maguerez e as explicações iniciais de que dispomos, como ponto de partida para o estudo;
2- identificar, entre as teorias da Educação, as que se apresentavam mais próximas das características da M.P. e em que referências se apoiam;
3- estabelecer as possíveis relações entre tais referências e as características do Esquema do Arco de Maguerez;
4- ponderar sobre pontos de apoio convergentes e divergentes das referências teóricas associadas ao Arco e que tenham, portanto, maior poder explicativo para o mesmo.
Buscando passar por quatro níveis: o técnico, o metodológico, o teórico e o epistemológico.
2 As origens primeiras do Arco de Maguerez e suas ressignificações
Assinada por Bordenave e Pereira (1982) = Observação da realidade (problema) – pontos-chave – teorização – hipóteses de solução – aplicação à realidade.
Em 1989, um pouco depois de acessar o livro, conhecemos a segunda fonte - um texto assinado por Bordenave, em que compara três pedagogias: a da transmissão, a do condicionamento e a da problematização e traz outras explicações para o Arco;
Em 2009, a terceira fonte foi um texto com apontamentos para uma palestra que proferiu como convidado e na qual tratou do Método da Problematização: fundamentos teóricos e aplicações no ensino superior.
Bordenave Ele mesmo mencionou as ideias de Paulo Freire, algumas ideias de Jean Piaget, o acesso que teve ao que compreendeu como três expressões do construtivismo - a aprendizagem por descoberta, inspirada nas ideias de Jean Piaget; - a concepção sociointeracionista da aprendizagem sustentada nos estudos de Lev Vygotski e desenvolvida por Jerome Bruner; e – a aprendizagem significativa de David Ausubel. Por último, por sua afirmação, o próprio autor constatou que a educação problematizadora encontrava fundamentação epistemológica no pensamento dialético.
6- Maguerez buscava ultrapassar a concepção tradicional de formação, assim como Bordenave e Pereira, que já apontam para a problematização e para a práxis problematizadora;
4- A análise da Metodologia da Problematização e do Arco, sob o esquema paradigmático de Sánchez Gamboa
Ao considerarmos a utilização do Arco de Maguerez como um caminho metodológico para a pesquisa, apoiamo-nos em Sánchez Gamboa (2007), ou seu “esquema paradigmático”, (...) vertentes epistemológicas encontradas em três grandes grupos: as empírico-analíticas, as fenomenológico hermenêuticas e as crítico-dialéticas. (...) relação dialética entre a construção da pergunta e a construção da resposta de investigações (...)quatro níveis para a construção da resposta: nível técnico, nível metodológico, nível teórico e nível epistemológico.
O nível técnico e o metodológico, coleta, registro, organização, sistematização e tratamento dos dados e informações em relação ao primeiro (técnico) e os passos, procedimentos e maneiras de abordar e tratar o objeto investigado, além das formas de aproximação ao objeto (delimitação do todo e sua relação com as partes) e consideração ou não dos contextos (em relação ao nível metodológico).
O nível teórico inclui a crítica, o debate, a polêmica, não se amparando na possibilidade de neutralidade científica (...)baseia-se numa abordagem preponderantemente qualitativa de pesquisa, tem o pesquisador como um de seus principais instrumentos de investigação
O nível epistemológico caracterizado como o âmbito da “concepção de causalidade, de validação da prova científica e de ciência (critérios de cientificidade)”. As perguntas principais seriam: São o processo e os procedimentos utilizados nas pesquisas científicos e verdadeiros?
Tomamos a explicação geral de Saviani (2008, p. 126) segundo a qual “teoria e prática são aspectos distintos e fundamentais da experiência humana”. Existem especificidades que os diferenciam.
Sánchez Gamboa (1995, p.32) afirma que T e P apresentam uma relação dinâmica e contraditória: “a teoria transforma-se na negação da prática porque a tenciona; a prática coloca em xeque a teoria, porque, em vez de se ajustar a ela, transforma-se em seu contrário”. É assim que a relação entre T e P pode ser compreendida como uma relação dialética.
Sánchez Vázquez (1977, p. 215) explica que a teoria depende da prática, “na medida que a prática é fundamento da teoria, já que determina o horizonte de desenvolvimento e progresso do conhecimento”
A dependência da teoria em relação à prática, e a existência desta como últimos fundamentos e finalidade da teoria, evidenciam que a prática - concebida como uma práxis humana total - tem primazia sobre a teoria; mas esse seu primado, longe de implicar numa contraposição absoluta à teoria, pressupõe uma íntima vinculação com ela (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1977, p.234). 281
Entendemos que podemos exercitar uma práxis por meio da Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez. Nesse processo, T e P se articulam desde o início, visto que tanto a teoria quanto a prática considerada e realizada se apresentam em níveis variados de elaboração,dependendo das condições concretas de que dispomos em cada grupo e com cada grupo ou pessoa e ambiente, mas sempre com a intenção clara de seu desenvolvimento cada vez mais consciente e elaborado.
5 - Alguns aspectos conclusivos
Ao mesmo tempo que apostamos no exercício da práxis pela experiência de percorrer todas as etapas do Arco de Maguerez, reconhecemos que ainda há a necessidade de fortalecimento da fundamentação teórica a respeito da própria relação entre T e P por todos aqueles que experimentam a M. P. em seus trabalhos. 283
Podemos indagar: T e P, nesse caso, são apenas complemento um do outro? Ou são opostos que se incluem, como afirmou Saviani (2008, p.127) Parece-nos que essa discussão seja pertinente em cada ocasião de uso da Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez. Teoria e prática não se constituem como a mesma coisa. São elementos opostos, que podem se apresentar dinâmica e contraditoriamente (SÁNCHES GAMBOA, 1995)
A ideia de que a teoria se transforma na negação da prática, porque tenciona a esta e esta coloca em xeque a teoria (SÁNCHES GAMBOA,1995), poderá fortalecer o sentido dialético do trabalho com a M. P. no tratamento de questões da educação ao ser profundamente compreendida.
Nesse sentido, a práxis criadora ou criativa pode evoluir para uma práxis revolucionária, ao apoiar- se em instrumentos e técnicas valorizados pela Escola Ativa, fazendo avançar parte dos estudantes para uma postura dialética e crítica, que corresponda a essa concepção.
Observação da realidade (problema) – pontos-chave – teorização – hipóteses de solução – aplicação à realidade
Sincrese = mesmo que antítese
- Partir do concreto – caminhar para o abstrato e retornar ao concreto.
- Alunos/pesquisadores – protagonistas principais do processo.
- Professor orientador (papel importante)
- Formação/ educação dos seres humanos
- Problematização
- Professores/ autores de livros
- Método dialético
Saviani:
1 – Pedagogia Produtivista
2 – Pedagogia Corporativa
3 – Pedagogia Construtivista (Piaget) – ativar os esquemas de pensamento – natural concreto para favorecer a aprendizagem – nuances da pedagogia esconovista.
4 – Pedagogia Tradicional – planejamento – sequência pedagógica, (subordina a prática a teoria) – COMO ENSINAR
1, 2, 3 – subordina a teoria a pratica - COMO ENSINAR.
Aprender a aprender
Bordenave e Pereira:
1 – Pedagogia Libertadora: contra educação bancária – educação problematizadora
2 – Concepção dialética: síncrese, análise e síntese – práxis – atividade transformadora da realidade.
3 – Pedagogia Construtivista (Piaget): Construtivismo sequencial – interação com o meio produz no sujeito o desenvolvimento mental (sociedade em mudança) pensamento escola nova.
- Movimento escolanovista se inspira no pragmatismo. Paulo Freire – fenomenologia existencial
- Pedagogia das perguntas e das respostas – olhar critico sobre a realidade – suspeita, dúvida, curiosidade, indagação (ponto de partida)
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